sábado, 6 de abril de 2013

Adeus, Pedro

Caro Pedro,
Sinto-me triste. Triste por hoje e, sobretudo, por amanhã.
A profissão que exerci, desde quando tu aparecias na minha televisão, na qualidade de presidente da jota do teu partido, deixou de ser rentável. As pessoas, que tu devias ter o dever de proteger, já não tem dinheiro para as necessidades do dia-a-dia, muito menos para fazer festas e requisitar os meus serviços.
Deixei de poder cumprir os meus deveres para com a Segurança Social. Já não ganhava o bastante para contribuir com a minha parte, enquanto cidadão activo, para poder usufruir na velhice, de algum conforto.
Como trabalhador independente, quando encerrei a minha actividade como "empresário em nome individual" (nome pomposo para um trabalhador independente), não tive direito a qualquer subsídio de desemprego. Fiquei dependente do salário (pouco mais do que mínimo) da minha esposa.
Com muito sacrifício consegui que a minha filha mais velha obtivesse uma licenciatura. Ela frequentou o ensino superior durante cinco anos. Hoje é professora do primeiro ciclo. Desempregada. Desempregada, mas com uma licenciatura e preparação para exercer a profissão com que ela sempre sonhou. A mais nova, actualmente no segundo ano do ensino superior, já fala em aprender alemão. Talvez venha a ser mais uma portuguesa em quem o Estado investe na sua formação, que depois vai "sustentar" o sistema de segurança social de outro país.
Sabes Pedro, às vezes, quando te vejo na televisão que me querias tirar, sinto pena de ti. Por vezes penso que tu estás a fazer o teu melhor, para me proporcionares as condições de vida a que me sinto no direito de exigir de ti, mas a minha sogra, octogenária, que só entrou numa escola primária para exercer o seu direito de voto, diz-me para não ter pena de ti, porque tu também não tens pena de mim. Nem dela.
Sabes, ela não acredita que tu sejas incompetente para o cargo que exerces. Ela sabe que tu estás a fazer exactamente aquilo que deve ser feito, para tornares Portugal num país miserável, apenas competitivo com a economia chinesa. Ou marroquina. Sabes, ela pensa isso porque, se vós destruístes tudo o que criava riqueza (ela fala muitas vezes na indústria têxtil do Vale do Ave, nas industrias que faziam os nosso comboios, os nossos barcos, nos barcos que pescavam o peixe que comemos, e podia falar em muitas mais coisas), agora só nos resta viver como ela viveu nos tempos de Salazar.
Ela sabe que ninguém consegue sobreviver, gastando mais do que ganha. Também diz que se tu quisesses, podias ao menos tentar aumentar o PIB, em vez de insistires na estúpida ideia de reduzir despesas, sendo que para ti, despesas significam ordenados e pensões. Quando tu confundes aumento das receitas com aumento de impostos, eu acho que é estupidez tua, mas ela acha que é a tua convicção. Ela está convencida que tu és má pessoa.
Pedro, aguardo com ansiedade o resultado do conselho de ministros extraordinário que acabou de terminar. Espero que vás embora. É que eu ando triste. Muito triste. Sobretudo porque tenho a terrível sensação que já é tarde.
Um abraço e adeus, Pedro.

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