segunda-feira, 27 de junho de 2005

Viação ou aviação?

Quando, depois do almoço, me sentei para ver o noticiário na televisão e me chamaram a tenção para a notícia de abertura, nem queria acreditar: “automóvel atropelado por uma avioneta”
Das duas uma: ou o automóvel voava, ou a avioneta passeava numa estrada. Enquanto passava a publicidade que nos “dão” nos últimos segundos antes da hora certa, pensava em qual das duas devia apostar, porque qualquer destas possibilidades era fantástica.
Ou então uma avaria teria forçado o piloto a aterrar de emergência numa estrada. Só pode ter sido esta última hipótese.
Quando me inteirei do sucedido, o meu espanto mantinha-se: só num país “terceiro-mundista” isto podia acontecer. Mas não, aconteceu em Portugal, num país membro de pleno direito da UE. Enfim… acidentes acontecem, só não sei se foi acidente de viação ou aviação, isso não foi explicado na notícia.

sexta-feira, 24 de junho de 2005

Alumínio e separatismo

Porque é que os ministros quando querem sair do governo não se demitem?
Lembram-se da reciclagem do alumínio? Pois bem, agora são os Açores que não fazem parte da República Portuguesa.
Tal como no ambiente de outrora, espera-se que na educação de hoje suceda o mesmo.

Adeus sra. ministra

A cada dia que passa, apesar de me sentir a envelhecer, alegro-me com a ideia de que falta menos um dia para o fim deste governo. Porém, apesar disso, por vezes dou comigo a pensar se o próximo vai ser melhor que este. Desde o 25 de Abril que o PS sucede ao PSD e vice-versa, sem que isso resolvesse os nossos problemas mais prementes e, mesmo assim, continuamos a dar-lhes mais uma hipótese de mostrar o que valem. E o que é que eles valem? Pouco! Pouco ou nada mesmo. E o mal é que eles sabem isso e, para nos distraírem, de vez em quando, um ministro sai para dar lugar a outro igual, só mudando a sua figura.
Dentro de pouco tempo, estou convicto, vai ser substituída a ministra da educação. Não por incompetência – por isso talvez nunca fosse ministra - mas por livre vontade. As suas recentes declarações, a propósito da decisão diversa entre tribunais, não são mais do que o abrir da porta de saída. Declarações daquelas não se fazem por acaso.
E agora venha o governo dizer que a greve dos professores foi um fracasso. Provavelmente os professores esperavam mais da greve, mas o governo, mesmo sem o reconhecer explicitamente, sabe que a greve teve os seus efeitos. E a prova-lo está a decisão de dar feriado aos alunos, obrigando os professores a assistirem aos exames. Adeus sr.ª ministra.

terça-feira, 21 de junho de 2005

O mundo ao contrário


O que merecemos

Sempre que algum grupo sócio-profissional decide fazer greve, toda a comunicação social se apressa em noticiar o sucesso ou insucesso da acção, em divulgar os incómodos causados aos inocentes. Mas pouco se divulga o objectivo da greve. No caso dos professores, sei que a greve coincidiu com os exames, que prejudicou alguns alunos, mas não sei porque fazem greve. Porque não concordam com os exames? Será?
Eu defendo o direito à greve, mas por vezes fico baralhado: ainda há pouco tempo votamos neste governo, porque raio já o molestamos?
Um dia entrei numa farmácia e pedi uma embalagem de pomada para os sapatos. O espanto foi geral. Foi-me dito pelo farmacêutico que só tinham pomada para os pés, pomada para os sapatos devia procurá-la numa sapataria, ou numa drogaria, ou em lojas da especialidade. E eu lá fui procurar a dita pomada noutro sítio, é que nas farmácias só se vende medicamentos e afins. O mesmo se passa com os empregados por conta de outrem: não adianta fazer greve. Numa sociedade como aquela em que vivemos, o que devemos fazer é pensar bem antes de votarmos, depois… é só esperar pelo resultado da nossa escolha. Cada um tem o que merece.

O homem que fala sozinho

António Vitorino fala que se farta. O espaço de propaganda que a RTP (a tal de todos os portugueses) concede ao governo e ao partido que o sustenta, está a tornar-se fastidioso. Para mim e, ao que parece, também para o homem que fala pelos cotovelos. Ele fala, fala, fala, e ninguém o contrapõe. Ao menos se eles se ”pegassem”, com um a atacar ao Domingo e outro a contra-atacar à segunda-feira, a coisa ainda podia ser interessante, mas não, tacitamente eles ignoram-se. E eu vou seguir-lhes o exemplo.

segunda-feira, 20 de junho de 2005

O umbigo de Carrilho

Entrei no café logo pela manhã para ouvir os comentários ao que se passou em Ponte de Lima, mas nada. O assunto do dia era o que Pedro Marques Lopes escrevera no Acidental, sobre o marido da Bárbara Guimarães e que vinha transcrito n'A Capital.
Eis um excerto do que ouvi:
-Quem é a Barbara Guimarães?
-É a mulher do Carrilho!
-Carrilho? O comunista espanhol que já morreu?
-Não! O ex-ministro da cultura.
-Ex-ministro da cultura? Casado com a Barbara Guimarães? Só pode ser político português.
Pode parecer coscuvilhice, mas de facto algo não bate certo: um filósofo casado com Barbara Guimarães ... “vê-se pela aragem quem vai na carruagem”, diz o povo e com razão. A confirma-lo está a filosofia de si sobre si, a par da exibição pública da sua vida privada. Mas é do umbigo que ele gosta. Nada há a fazer. Os lisboetas que se cuidem.

Tiago Monteiro em terceiro

Tiago Monteiro terminou em terceiro lugar o grande prémio dos EUA em formula 1. Alguns dirão que ficou a meio da tabela. Eu digo que ficou em terceiro. Mas mesmo que seja o meio da tabela, é um grande progresso. É um grande progresso e provocou algum nervosismo por aí: ontem à noite, o site oficial da F1 apresentava o Rubens Barrichello como vencedor, hoje n'A Capital o Naraian Karthikeyan ficou em quarto ao volante de um McLaren Mercedes.
Agora, falando sério, espero que nenhum português ilustre se lembre de homenagear o Tiago, é que se o fizer, a distinção pode soar a menosprezo pela brilhante carreira do piloto português. A ver vamos.

domingo, 19 de junho de 2005

Manifestação ou arrastão?

Ontem houve uma concentração de pessoas, algumas delas com o cabelo bem cortadinho, na baixa lisboeta. A polícia interveio à bastonada para impedir o linchamento de um presumível assaltante de uma loja. Uma semana atrás aconteceu o mesmo noutro local, mas sem que houvesse notícia de que alguém quisesse linchar quem quer que fosse e a polícia apressou-se a justificar a sua atitude. Espero agora, calmamente a explicação da PSP para o que aconteceu ontem.

A mangar

Aproveitando o feriado de 10 de Junho e o facto de em algumas cidades também se dispensar o trabalho no dia 13, por via do dia de Stº. António, fui passar uns dias ao Algarve.
A zona mais desejada por muitos portugueses para passar férias, sendo a que possui, provavelmente as melhores águas – e não as melhores praias – é por excelência a que maior número de visitantes regista ao longo de todo o ano. Eu não sou muito amante da praia, pelo menos na qualidade de banhista, prefiro aproveitar o meu tempo em outras actividades, em vez de o gastar estendido no areal como leitão no churrasco. Mas entendo os portugueses que gostam de passa férias no Algarve. Eu também andei a mangar que era rico, mas foram só quatro dias.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Os euros e Portugal

Portugal vai receber entre 18,5 e 25 mil milhões de euros, do orçamento da UE. Isto é o que se sabe, mas o que eu também queria saber, é quanto nos vai custar esse dinheiro. Não é por mal, mas eu também vou contribuír na "paga" desse custo, embora na partilha eu pouco participe.

Entendem ou não?

Os franceses votaram não, poucos dias depois foi a vez dos holandeses negarem as pretensões eurocratas. Nos dias seguintes assistimos às mais diversas, e por vezes disparatadas, análises à vontade popular. Agora vão decidir "parar o processo" referendário.
Bom, o que aqueles que já votaram não e os que lhes seguirão o exemplo querem mesmo, não é que parem o processo de ractificação do tratado, mas antes que o alterem, ou melhor ainda, que o rasguem. Entendem?
E parem de me chamar anti-europeu só porque não concordo com esta constituição!

terça-feira, 14 de junho de 2005

Álvaro Cunhal

Não resisti! Não resisti e, abusivamente, pois não pedi a prévia autorização, "republico" com as devidas ligações.

O discurso de Álvaro Cunhal na Assembleia da República em 4 de Junho de 1976 e um poema de Pablo Neruda, dedicado a Álvaro Cunhal:
http://ciberjuristas.blogspot.com/

Jorge Amado sobre Álvaro Cunhal:
http://www.barnabe.weblog.com.pt/

4 de Junho de 1976

Memórias (4 de Junho de 1976 - Assembleia da República)

O Sr. Álvaro Cunhal (PCP): - Sr. Presidente da Assembleia da República -, Sr. Deputados, Camaradas:
O começo dos trabalhos da Assembleia doa República tem um alto significado na, vida do nosso povo e do nosso país.
O regime democrático português, saído da Revolução, conquistado e modelado pela luta do nosso povo, definido na Constituição que entra em vigor, começa a sua marcha, que nós, comunistas, desejamos seja firme, serena e estável.
A situação democrática em que vivemos ao longo de dois anos exaltantes de luta do povo, português torna-se regime.
A prática dais liberdades torna-se direito e norma de vida.
As profundas transformações económicas e sociais alcançadas pela Revolução (as nacionalizações, a Reforma Agrária, o controle operário, a intervenção dos trabalhadores na gestão das empresas) tornam-se parte integrante do, regime e do projecto nacional doe progresso e desenvolvimento, que escolheu como norte a sociedade socialista.
Em nome do Partido Comunista Português, declamo que é nossa firme propósito agir de forma a contribuir para a defesa, a consolidação, a estabilidade e o prosseguimento do regime democrático, segunda os princípios definidos na Constituição.
O início dos trabalhos dia Assembleia da República tem o relevo particular que lhe dá o facto de que, com o início da primeira sessão legislativa da Assembleia, começam a entrar em funções os órgãos doe poder do novo regime.
Será um poder com uma estrutura original, uma vez que nela se encontra, através do Conselho da Revolução, e da Assembleia da República, a presença de duas grandes componentes do processo revolucionário (a militar e a popular), que conduziram à criação da nossa democracia e, agora se, expressam ao nível dos órgãos do poder institucionalizados.
Apesar de não estar ainda assegurado o exercício dos direitos e liberdades dos cidadãos em vastas zonas do território e apesar de numerosos factores antidemocráticos existentes na vida política portuguesa, ai Assembleia, resultante do sufrágio universal, reflecte a intervenção política do povo português através das últimas eleições.
Confiamos - em que os trabalhos da Assembleia se desenvolverão tendo em conta a vontade expressa, pelo eleitorado que a - elegeu: assegurar a continuação do processo, democrático.
Em nome do Partido Comunista Português, declaro que é nosso firme propósito agir de forma a contribuir para que o voto do povo se concretize, tanto na acção legislativa da Assembleia como na formação e na política do novo Governo.
A Assembleia da República ,irá defrontar unia complexa situação que exige se tomem sérias decisões para resolver os problemas políticos, económico e sociais, estreitamente interdependentes.
A vida democrática normal, as liberdades, uma política económica na, perspectiva do socialismo, o melhoramento das condições de vida das massas populares, uma, política externa de independência nacional e cooperação internacional, são completamente inseparáveis.
Tentativas de recuperação capitalista, agrária. e imperialista, a serem empreendidas pelo poder, caminhariam a par da restrição e liquidação das liberdades e do agravamento das condições de vida de todo o povo trabalhador.
Adquirirá, por isso, extraordinário relevo nos trabalhos da Assembleia a definição das grandes linhas em matéria económica e social.
Impõe-se, naturalmente, como condição da própria democracia, garantir o exercício das liberdades e direitos dos cidadãos em todo o território, e isso exige que se ponha fim ao terrorismo, às conspirações, às organizações clandestinas reaccionárias, respeitando e fazendo respeitar a ordem democrática.
Mas, a própria existência das liberdades e direitos dos cidadãos, a própria viabilidade da democracia, despende - da solução correcta dos problemas económicos que Portugal defronta.
Em nome do Partido Comunista Português, declaro que é nosso firme propósito agir de forma a contribuir para tornar possível aquilo que foi durante longos anos um projecto comum das forças progressistas e é hoje uma orientação constitucional: que a construção da democracia política seja acompanhada da construção dia democracia económica, social e cultural.
A estabilização da economia portuguesa e uma política dê desenvolvimento deverá ter em conta as radicais transformações nas estruturas económicas que se produziram desde 1974, que tornam não só indesejável, como irrealista e inviável, no quadro de uma vida política, democrática, uma dinâmica económica assente nos processos e estímulos próprios do capitalismo monopolista de Estado.
O agravamento da l exploração dos trabalhadores a fim de aumentar os lucros, a, acumulação do capital e os investimentos, como via para sair das dificuldades actuais, seria uma via anti-operária, antipopular, uma via de recuperação capitalista incompatível com o exercício das liberdades e direitos e com a vida democrática.
Para a solução das dificuldades económicas no quadro do novo regime democrático, a única via é aquela que, embora reconhecendo importante papel à iniciativa privada em amplos sectores económicos, embora dando-lhe garantias suficientes, considera pontos de partida essenciais a existência de um sector nacionalizada que abrange os sectores básicos da indústria., transportes e serviços, uma reforma agrária que constitui o ponto de arranque parra, o aluimento. da produção agrícola e pecuária e a intervenção dos trabalhadores (pelo controle e a gestão) na vida dai empresa e dais explorações agrícolas colectivas. É essa a única via de uma política económica capaz de, no nosso regime democrático, assegurar a estabilização e o desenvolvimento.
Esta perspectiva toca características específicas da situação económica e social criada pela revolução portuguesa, que indicam, como estímulo e elemento motor essenciais, não a exploração e o lucro, mas a consciência política e cívica, o trabalho criador e o melhoramento das condições de vida do povo que trabalha.
Uma política de recuperação capitalista e agrária conduziria de novo ao fascismo. A única política, capaz de resolver os, problemas económicos no quadro da, liberdade, da democracia e da independência nacional é aquela que defenda e assegure as conquistas revolucionárias e prossiga no caminho do socialismo.
Portugal viveu quase meio século um regime de repressão e terror ao serviço do grande capital e dos grandes agrários, que exploravam e oprimiam o povo português e prosseguiam ao mesmo tempo uma política de rapina e de guerra em África e de dependência e submissão da pátria portuguesa.
O levantamento militar de 25 de Abril de 1974 e a intervenção imediata do movimento. operário e popular, todas as transformações políticas, económicas e sociais realizadas desde então, constituem uma extraordinária, afirmação da vontade e independência do povo português de decidir sem ingerências externas a sua própria vida, e o seu próprio destino.
A defesa, consolidação e prosseguimento do. regime democrático, ia solução dos problemas da política interna e do desenvolvimento económico, exigem se siga uma política de independência nacional, libertando de uma vez para sempre o nosso país da submissão política, económica e diplomática a países estrangeiros - ao imperialismo.
Em nome do Partido Comunista Português declaro que é nosso firme propósito, agir de forma a contribuir para que se possa concretizar uma política externa de paz e amizade com todos os povos e com todos os países, capitalistas e socialistas, com particular relevo para aqueles outrora submetidos ao colonialismo português, cornos quais é necessário e possível, vencendo dificuldades actuais, estabelecer uma, estreita cooperação.
Ao começar os trabalhos da Assembleia, os Deputados comunistas, confirmando o seu compromisso assumido perante o povo, declaram desde já que cumprirão o mandato do povo que os elegeu.
Os Deputados comunistas defenderão, sempre e em todas as circunstâncias a aplicação rigorosa da Constituição.
Os Deputados comunistas defenderão sempre e em todas as circunstâncias os interesses da classe operária, dos trabalhadores, dos pequenos e médios agricultoras, dos pequenos e médios comerciantes e industriais, dos intelectuais, da juventude, das mulheres, de toda a grande, maioria da população portuguesa, vitalmente interessada) a que, não mais Portugal regresse ao poder económico e político dos monopólios e agrários, vitalmente interessados na, construção de uma democracia que, nos termos dia Constituição, está empenhada em transformar-se numa sociedade sem explorados nem exploradores, numa sociedade sem classes.
Queremos aqui - solenemente declarar que, na Assembleia da República, como em todos os sectores da vida nacional, o Partido Comunista, Português está pronto a unir a sua vontade e os seus esforços à vontade e esforços de todos aqueles que querem assegurar ao povo português a liberdade, a democracia, o bem-estar material e cultural, a paz e a independência.
Aplausos dos Deputados do PCP, do 'PS e de alguns do PPD.

La Lámpara Marina

La Lámpara Marina

Poema que Pablo Neruda dedicou a Álvaro Cunhal, então preso, em 1953

I
El Puerto Color de cielo


Cuando tú desembarcas
en Lisboa,
cielo celeste y rosa rosa,
estuco blanco y oro,
pétalos de ladrillo,
las casas,
las puertas,
los techos,
las ventanas,
salpicadas del oro limonero,
del azul ultramar de los navíos.

Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de luto,
retóricos, correctos,
arreando presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo ventanas verdes,
entre montes azules,
la policía
bajo las otoñales cornucopias
buscando portugueses,
rascando el suelo,
destinando los hombres a la sombra.

II
La Cítara Olvidada

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emerges
en la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.

III
Los presidios

Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente
Militão?
Muchacha portuguesa,
pasas como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó Bento Gonçalves,
el portugués más puro,
el honor de tu mar e de tu arena?
Sabes
que existe
una isla,
la isla de la Sal,
y Tarrafal en ella
vierte sombra?
Sí, lo sabes, muchacha,
muchacho, sí, lo sabes.
En silencio
la palabra
anda con lentitud pero recorre
no sólo el Portugal, sino la tierra.
Sí, sabemos,
en remotos países,
que hace treinta años
una lápida
espesa como tumba o como túnica
de clerical murciélago,
ahoga, Portugal, tu triste trino,
salpica tu dulzura
con gotas de martirio
y mantiene sus cúpulas de sombra.

IV
El Mar Y Los Jazmines

De tu mano pequeña en otra hora
salieron criaturas
desgranadas
en el asombro de la geografia.
Así volvió Camoens
a dejarte una rama de jazmines
que siguió floreciendo.
La inteligencia ardió como una viña
de transparentes uvas
en tu raza.

Guerra Junqueiro entre las olas
dejó caer su trueno
de libertad bravía
que transportó el océano en su canto,
y otros multiplicaron
tu esplendor de rosales y racimos
como si de tu territorio estrecho
salieran grandes manos
derramando semillas
para toda la tierra.

Sin embargo,
el tiempo te ha enterrado.
El polvo clerical
acumulado en Coimbra
cayó en tu rostro
de naranja oceánica
y cubrió el esplendor de tu cintura.

V
La Lámpara Marina

Portugal,
vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevo
a la luz matutina
del clavel y la espuma.
Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.

La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
Cómo es esto?
Cómo puedes negarte
al ciclo de la luz tú que mostraste
caminos a los ciegos?

Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?

Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de tus hijos
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura
de la geografía deslumbrante,
muéstranos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar oscuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.

Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.

En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.

Poema extraído de Obras Completas, 3ª ed. aumentada, Buenos Aires, Editorial Losada, Col. Cumbre, 1967

À boleia do Barnabé

Essa Vida Preciosa, Salvemo-la
por Jorge Amado
«Tão magro, de magreza impressionante, chupado a face fina e severa, as mãos nervosas, dessas mãos que falam, mal penteado o cabelo, um homem jovem mas fisicamente sofrido, homem de noites mal dormidas, de pouso incerto, de responsabilidades imensas e de trabalho infatigável, eu o vejo, sentado ao outro lado da mesa, diante de mim, falando com a sua voz um pouco rouca, os olhos ardentes no fundo de um longo e sempre vencido cansaço, e o vejo agora como há cinco anos passados, sua impressionante e inesquecível imagem: Álvaro Cunhal, conhecido por Duarte, o revolucionário português. Falava sobre Portugal, sobre que poderia falar?
Sua paixão e sua tarefa: libertar o povo português da humilhação salazarista, libertar Portugal dessa já tão larga noite de desgraça, de silêncios medrosos, de vozes comprimidas, de alastrada e permanente fome do povo, de corvos clericais comendo o estômago do país, de tristes inquisidores saídos dos cantos mal iluminados das sacristias e da História para oprimir o povo e vendê-lo à velha cliente inglesa ou ao novo senhor norte-americano. Sua paixão e sua tarefa: fazer de Portugal outra vez um país independente e do povo português um povo novamente livre e farto e dono da sua natural alegria.
Ah! Aqueles cansados olhos fundos sorriam e a voz estrangulada de cólera se abria em doçura de palavras de amor para falar de Portugal e do povo português. Eu compreendia que aquele homem de magreza impressionante, de físico combalido pela dura ilegalidade perseguida, era o seu próprio país, seu próprio povo e que, com seu cansaço, sua fadiga de anos, sua rouca voz de velho sono, suas mãos ossudas, eles estava construindo a vida, o dia de amanhã, o mundo novo a nascer das ruínas fatais do salazarismo.
Como era terno seu sorriso ao falar das festas populares nas aldeias do Minho ou dos homens rudes de Trás-os-Montes! Conhecia tudo do seu país e do seu povo, tudo o que era autêntico de Portugal, desde o mar-oceano com a sua história portuguesa e gloriosa até as vinhas ao sol e as cantigas e os poemas dos poetas reduzidos na sua grandeza pela censura fascista; desde as histórias heróicas dos militantes presos, torturados até à loucura e à morte, as tenebrosas histórias do Tarrafal, o campo de concentração mais antigo e mais cruel da Europa, até às doces histórias de amor da província portuguesa, com um sabor romântico das velhas legendas.
Contou-me coisas de espantar com sua voz ora doce, grávida de ternura, ora violenta de cólera desatada quando falava da fome dos trabalhadores, da opressão salazarista sobre o povo, da opressão imperialista sobre a sua pátria de primavera e mar.
(...)
os comunistas portugueses, heróis anónimos do povo, os invencíveis, os que estão rasgando a noite fascista com a lâmina de sua audácia e de sua certeza para que novamente o sol da liberdade ilumine o país dos pescadores e das uvas. De um me disse: «Esse esteve no Brasil e aprendeu com vocês»
(...)
Falou do campo, dos homens que habitam as montanhas, daqueles que Ferreira de Castro, o grande romancista, descreveu em «Terra Fria» e «A Lã e a Neve». (...) Falou dos operários das cidades daqueles que Alves Redol descreveu em seus magníficos romances e contou da sua irredutível resistência ao regime salazarista. (...)
Naquela tarde como que me apossei por inteiro de Portugal, do melhor Portugal, do Portugal eterno, como se Álvaro Cunhal o trouxesse nas suas mãos ossudas, tão descarnadas e nervosas, como se trouxesse – e o trazia em verdade – no seu coração de revolucionário e patriota.
Voltei a vê-lo ainda uma vez, dias depois, e a longa conversa sobre Portugal continuou. Falou-me dos escritores, dos plásticos, dos pescadores, fadistas, e sobretudo da luta subterrânea, dura e difícil e jamais vencida. (...)
Veio o processo, dentro dos métodos infames dos tribunais fascistas. Ali se ergueu Álvaro Cunhal (Militão morrera de torturas) e não era o réu, era o acusador, a voz de fogo a queimar o vergonhoso rosto dos carrascos do seu povo, dos vendilhões da sua pátria.
(...)
Pretendem matá-lo e nós sabemos que são frios assassinos os que querem matá-lo. É uma vida preciosa, preciosa para Portugal e para o mundo, ajudemos o povo português a salvá-la!
(...)
Há alguns meses eu estava em frente ao mar Pacífico, na costa sul do Chile, em Isla Negra, em casa de Pablo Neruda, meu companheiro de lutas de esperança. Uma figura de proa de barco se elevava em frente ao mar de ondas altas e violentas. Por isso falámos de Portugal e do seu destino marítimo. Contei ao poeta sobre Cunhal e Pablo levantou-se, deixou-me com o pescador que parara para escutar-nos e quando voltou havia escrito esse maravilhoso poema que é «A Lâmpada Marinha» sobre Portugal, seu povo, Álvaro Cunhal e o dia luminoso de amanhã»
(...)
Hoje o mais bravo dos filhos desse povo heróico, aquele que tudo sacrificou para ser fiel à esperança do povo está com sua vida ameaçada.»

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Álvaro Cunhal faleceu

Um dia de luto nacional!
Pois... um dia chega muito bem. E não se pode comparar com outros óbitos, porque não os houve semelhantes a este, por isso eu concordo com um dia de luto nacional, mas gostava de ouvir a explicação do governo PS. Gostava mesmo.

quinta-feira, 9 de junho de 2005

A reforma do ex presidente

O dr. Mário Soares, ouvi-o na TSF, defende que o governo devia quebrar o compromisso, leia-se promessa eleitoral, das SCUT. Com a sua reforma, também eu defendia dr. Soares.

O sr. Barbosa

O sr. Barbosa é motorista de camião, de uma empresa que distribui “Água do Fastio”. Ontem de manhã o sr. Barbosa conduzia o camião na EN13, entre Vila do Conde e Póvoa de Varzim. Eu seguia na mesma direcção, à sua frente, numa pequena fila de trânsito. A fila parou e eu, verificando a existência de uma passadeira, parei deixando a passadeira livre. O sr. Barbosa bloqueou a travessia de peões. Vinha distraído o sr. Barbosa. Uns metros à frente voltamos a parar, só que desta vez havia um ligeiro parado na via e o sr. Barbosa parou em segunda fila, impedindo o trânsito que circulava em sentido contrário. O sr. Barbosa é um mau condutor.
Deixe lá sr. Barbosa, o sr. é apenas mais um entre muitos maus condutores portugueses.

terça-feira, 7 de junho de 2005

Ainda o referendo à constituição para a Europa

O governo inglês vai suspender o processo em Inglaterra, a acreditar nas palavras do seu ministro dos negócios estrangeiros, Jack Straw, que diz "não haver razões para tentar um referendo, pelo menos sem uma definição mais clara da UE".
Segundo a própria constituição europeia, todos os estados membros devem ratificar o tratado, para que possa entrar em vigor um texto constitucional longo e indecifrável para a maioria dos portugueses. Ora, como já dois países a "chumbaram", obviamente não entrará em vigor, pelo menos assim como foi elaborada. A ser assim, para quê referenda-la entre nós? Ou esperam pelo não português para "forçar" os eurocratas a alterarem o texto?
Mais uma razão para eu votar não.

A minha ignorância

A notícia de que o governo de Santana Lopes havia programado, para 1 de Julho, o início da época do combate aos incêndios florestais, deve ter deixado muita gente a rir. Deve ser a única coisa que programamos, e mesmo assim mal, ou então alguém se antecipou e o país começou a arder antes do programado.
Não sabia que se podia programar o início dos incêndios. Não sabia, mas fiquei a saber.

segunda-feira, 6 de junho de 2005

O tabaco e a crise

Por razões que eu não comento, aqui e agora, os maços de tabaco, como é do conhecimento geral, trazem uma mensagem (de morte) na embalagem. Para reduzir o consumo (?) o governo já anunciou o aumento do preço do tabaco nas tabacarias.
Nesta altura de crise, a minha sugestão era mais rentável e quiçá mais eficaz.
Aqui um exemplo de rentabilidade e eficácia.
Resta acrescentar que a "Casa Palhares" é uma agência funerária.